Aline Figueiredo, a gigante animadora cultural, é inconteste mestra da cultura mato-grossense. Às vezes questionada pelos posicionamentos contundentes, mas sempre reconhecida pela contribuição às artes de um Mato Grosso uno, fazendo história aqui e onde hoje é o vizinho Mato Grosso do Sul.
São mais de 50 anos de trabalho nas artes, no início enquanto artista plástica, com quadros pela técnica do texturismo e, a partir do casamento com Humberto Espíndola, o despertar para os “bastidores da arte”. “Quando ela conhece o Humberto, ela decide que o lance dela não será à frente da exposição, mas nos bastidores”, conta o jornalista Rodrigo Vargas ao Entretê.
Uma atuação completa: mais que produtora cultural, uma animadora, como ela mesma prefere. Aline acumula também as ‘funções’ de crítica de arte, professora de História da Arte, formadora de público, gestora cultural e intelectual da cultura. “Ela escreveu cinco livros fundamentais para se entender o papel da arte em Mato Grosso, aliás, no Centro Oeste”, assegura o jornalista.
Rodrigo Vargas sempre admirou Aline Figueiredo, resultado das várias vezes que a entrevistou enquanto repórter. E, diante do edital Mestres da Cultura, da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso (Secel/MT), para projetos com recursos da Lei Aldir Blanc, não teve dúvidas: se colocou proponente do projeto “O Propósito de Aline”. “Não tinha ninguém mais talhado para receber essa homenagem”, avalia, se referindo à finalidade do edital.
Na noite desta terça-feira (14), Rodrigo Vargas lança dois produtos contemplados no edital multimídia: o livro “O Propósito de Aline” e o documentário de 45 minutos “Eu Sou Capim Navalha”, registrando como a própria Aline se reconhece. Será no Teatro do Sesc Arsenal, às 19h, com entrada franca e presença da homenageada. As duas horas do evento serão divididas entre a exibição do doc e o momento de autógrafos.
O livro é escrito de forma cronológica, marcando momentos importantes da vida de Aline Figueiredo, atualmente com 75 anos. Mas não é uma biografia, avalia Rodrigo. Segundo ele, as 200 páginas da obra são insuficientes para registrar a trajetória da homenageada. “Precisaria de 600, 800 páginas”, garante.
A capa do livro, o segundo de Rodrigo, é a reprodução da tela de Márcio Aurélio, um dos artistas impulsionados por Aline. Na lista, além de Humberto Espíndola, tem Dalva de Barros, Clóvis Irigaray, Adir Sodré e Gervane de Paula, entre dezenas de outros.
Outro nome fundamental na construção do livro foi a editora Maria Teresa Carracedo, da Entrelinhas, que, antes mesmo de cumprir o papel de editar, fez a ponte entre o autor e a personagem.
Capim Navalha
O filme, que complementa o livro, roteirizado e dirigido por Rodrigo Vargas, convida os espectadores a “passar um dia” com Aline. “Eu queria que fosse só a Aline falando”, conta o diretor. “O documentário tem dois personagens, um é a casa dela – uma casa fantástica, tem mais de 800 obras de arte lá – e o outro personagem é a própria Aline”, dá o spoiler sobre o filme “mais intimista”. A homenageada, em casa, em isolamento social, “está relaxada e fala sobre várias coisas: sobre arte, sobre os artistas, sobre morte, sobre envelhecer…”, antecipa.
Para a realização do filme, Rodrigo repetiu a parceria de anos com o fotógrafo José Medeiros, com quem compartilha o primeiro livro ‘Andanças’. Zé abriu uma produtora – a Maria Filmes, que assinou toda a técnica do documentário: a captação de imagens e de som e a edição.
O processo
“Eu já tive a oportunidade de entrevistá-la algumas vezes e, em todas, me chamou muita atenção. E a forma também. Ela é muito franca, ela é muito direta, tem gente que não entende isso e encara de outra forma, mas eu sempre gostei da experiência de entrevistá-la. E eu sabia um pouco dessa história fantástica que ela construiu. Mas, no processo, eu me surpreendi ainda mais. A personagem que já era grande ficou ainda maior à medida que eu fui descobrindo mais coisas”, contextualizou Rodrigo sobre a escolha de propor o projeto.
Assim que foi aprovado, em novembro de 2020, começou a saga de entrevistas, pesquisas, levantamento de dados para – paralelamente – escrever um livro e pensar e captar um filme, tudo isso mantendo o emprego formal e a rotina familiar, durante o desafio do home office.
Por outro lado, “o trabalho foi muito facilitado, porque a Aline é uma personagem sensacional! A vida dela é muito rica, a vida dela é cheia de viradas, de coisas que não estavam previstas… de repente, tudo muda! Ela é muito ativa, ela não fica muito tempo imaginando como poderiam ser as coisas, ela sonha e já dá um jeito de correr atrás!”, exclama. O autor conta que, diante dos episódios surpreendentes da vida de Aline, estruturou o livro com capítulos encerrados com ‘viradas’, tal qual uma série de TV.
Só um pouquinho de Aline
Se nas 200 páginas do livro, Rodrigo Vargas se sente incapaz de registrar a grandeza de Aline Figueiredo, imagina nas poucas linhas desta reportagem.
Mas é importante marcar que a mato-grossense de Corumbá, moradora de Cuiabá desde a juventude, criou, aos 20 anos de idade, em 1966, a 1ª Exposição dos Artistas de Mato Grosso, em Campo Grande, com 17 artistas do Mato Grosso uno, uma exposição que até hoje é considerada marco para a cena artística.
Aline contribuiu para o surgimento do Museu de Arte e de Cultura Popular da UFMT (MACP/UFMT); para a criação do Ateliê Livre da Fundação Cultural de MT, berço de inúmeros talentos das nossas artes; esteve à frente das primeiras edições do Salão Jovem Arte Mato-Grossense; ganhou dois prêmios da Associação Brasileira dos Críticos de Arte (ABCA); entre outros feitos.
Serviço
Lançamento de livro e documentário, de Rodrigo Vargas, sobre a animadora cultural Aline Figueiredo
Exibição do filme “Eu Sou Capim Navalha” e noite de autógrafos – livro “O Propósito de Aline”
Data: terça-feira (14), das 19h às 21h
Local: Teatro do Sesc Arsenal
Entrada franca
Presença confirmada da homenageada