Na manhã desta quarta-feira (1º), membros da Associação das Redeiras de Várzea Grande e a estilista Martha Medeiros se encontraram na Escola Municipal de Educação Básica (EMEB) ‘Euraides de Paula’, na comunidade de Limpo Grande. Martha e as artesãs firmaram parceria para divulgação, fomento e valorização das peças artesanais, que são confeccionadas em tear manual.
A rede várzea-grandense e o modo de fazê-la são reconhecidos, por meio da lei municipal nº 4.406/2018, como patrimônio cultural material e imaterial de Várzea Grande. A peça não possui verso, sendo possível ver o desenho pelos dos dois lados. O artigo é feito por um tear manual vertical que tem ponto único, produzindo redes exclusivas.
Mesmo carregando o peso do simbolismo de representar a cultura de Várzea Grande, tal artesanato corre o risco de se perder por falta de incentivos que despertem o interesse dos mais jovens. As redeiras que ainda estão em atividade são, em geral, filhas e netas de outras redeiras e começaram o ofício com cerca de 12 anos. O sonho de tornar esses produtos, que são peças únicas, em obras de artes, ficou muito mais perto de se tornar realidade.
Martha se comprometeu a buscar meios de baratear a aquisição de matéria-prima, as linhas e barbantes, e ainda divulgar, por meio de sua marca, as peças confeccionadas em Limpo Grande. “O luxo do Brasil está em Várzea Grande e, juntas, o artesanato vai virar, sim, uma obra de arte. Artesanato é feito com coração, as mãos são apenas instrumentos da concepção”, comentou.
A estilista chegou à comunidade de Limpo Grande por meio de uma articulação feita pela primeira-dama do Município, Kika Dorilêo e a pedido da primeira-dama do Estado, Virginia Mendes, que é amiga pessoal da estilista. Martha é reconhecida internacionalmente por ter transformado a renda nordestina em lindas e valorizadas peças de vestuário.
“Eu vim até aqui para fazer, para contribuir com a mudança. Retorno em outubro ao Estado, mas, neste tempo, vou articular a aquisição de linhas de qualidade e a preços diferenciados, pois esse insumo precisa ser subsidiado e ter qualidade. Fora isso, as indústrias terão de produzir cores especiais que atendem às características dessa arte, que em suma, retrata a natureza, o Pantanal, a fauna e a flora, são cores vivas e as redeiras têm de ter acesso à matéria-prima”, destacou a convidada.
Para tecer uma rede tradicional, a Associação informou que são utilizados cerca de 40 novelos, ao custo unitário de R$ 20. “A esse valor, não há viabilidade”, frisou Martha.
A representante da Associação, Jilaine Maria da Silva, conta que são quase dois meses para a redeira concluir uma rede. “Quando o custo final passa de dois mil reais, a pessoa não entende, acha caro, mas não considera o tempo investido, nem o valor dos materiais. São produtos únicos, 100% algodão e feitos em tear manual”. Sobre a parceria que começou a ser alinhavada nesta manhã, Jislaine disse que não há “oportunidade melhor para se divulgar um trabalho centenário como esse”.
Outra preocupação que Martha trouxe ao encontro foi de que as peças sejam vendidas diretamente pelas artesãs redeiras, “para que o dinheiro chegue a quem de fato produz”. Numa demonstração do uso do tear manual, feito pela redeira Giva, Martha se emocionou. “Temos de cuidar, senão, não vai mais existir”.
A primeira-dama de Várzea Grande, Kika Dorileo, destacou que a ação tinha a intenção de tornar a visita da Martha em algo concreto, que traga impactos às redeiras. “Martha abraçou a cultura alagoana e a mostrou para o mundo. Tenho certeza de que isso vai acontecer com a cultura de Várzea Grande”, vislumbrou Kika. “Nossas redes têm um ponto único, as redes são tecidas de maneira única e o mundo precisa conhecer essa arte”, reforçou.
Virginia Mendes disse que o encontro de hoje era um sonho que vinha sendo acalentado há quatro anos. “Um namoro longo”, definiu. Sobre o fomento da atividade, ela disse que o Estado poderá criar algum tipo de auxílio financeiro para a Associação, até mesmo por meio do ‘Ser Família Emergencial’.