A força e a tradição do povo Mehinako, que habita a aldeia Utawana, no território do Xingu, em Gaúcha do Norte (a 570 km de Cuiabá), são o centro do documentário Casa Xingu. Dirigido por Cassyo Anders e co-dirigido por Hai Waura Mehinako, o filme evidencia a resistência da comunidade diante das ameaças ao território, especialmente o desmatamento e as queimadas que afetam o modo de vida ancestral.
Produzido pela CAS Produções e pelo Coletivo Corpoanu, o documentário mostra de forma sensível o processo coletivo de construção das casas tradicionais Mehinako — um saber transmitido entre gerações que simboliza a união e a essência do povo. “A produção revela os desafios enfrentados pela comunidade na manutenção de seus modos de vida e na construção das casas tradicionais, cada vez mais impactadas por fatores ambientais”, explica Cassyo Anders.
Para a jovem co-diretora e produtora executiva Hai Waura Mehinako, de 21 anos, o filme tem o propósito de aproximar o público não indígena da realidade da aldeia. “É muito importante que as pessoas conheçam nossa cultura e saibam das dificuldades que enfrentamos para manter nossas tradições. O desmatamento e as queimadas dificultam encontrar os materiais necessários para construir nossas casas”, afirma.
A construção de uma casa Mehinako é um ritual de ensinamento e convivência. Feita com madeira, embira e sapé, a estrutura é erguida majoritariamente pelos homens, com o apoio das mulheres na coleta e preparo dos materiais. Cada casa abriga entre 10 e 20 pessoas, funcionando como centro da vida social e espiritual — onde se partilham histórias, rituais e valores transmitidos pelos ancestrais.
Segundo o professor Meyeke Mehinako, da Escola Estadual Indígena da aldeia Utawana, o filme é uma ferramenta essencial de valorização cultural. “O documentário é importante para mostrar nossa cultura, como vivemos e nossos costumes. A casa é o coração da comunidade e símbolo da nossa união”, ressalta.
Os Mehinako também são reconhecidos pela arte refinada de esculturas em madeira, pela confecção das cestas Kunõ — feitas de palha de buriti e algodão — e pela tradicional luta Huka Huka, uma expressão de força e espiritualidade que integra o Kuarup, cerimônia que reúne diversas etnias do Xingu, como Kuikuro, Waura e Yawalapiti.
Casa Xingu foi contemplado no edital público nº 14/2023 da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso (Secel-MT), por meio da Lei Paulo Gustavo. A primeira exibição ocorre na aldeia Utawana, no dia 12 de novembro, acompanhada de uma oficina sobre elaboração de projetos culturais.
Em Cuiabá, o lançamento será no dia 14 de novembro, às 19h, no Musear da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). A entrada é gratuita e sujeita à lotação do espaço. Na mesma noite, Cassyo Anders apresentará outras duas produções: Quilombolar — sobre a comunidade Lagoinha de Baixo, em Chapada dos Guimarães — e Yanumakalu, curta protagonizado por Hai Waura Mehinako, que narra a luta de uma jovem indígena contra o trabalho escravo em Mato Grosso.
Serviço
Lançamento: Documentário Casa Xingu, curta Yanumakalu e exibição de Quilombolar
Data: 14 de novembro de 2025
Local: Musear – UFMT, em Cuiabá
Horário: 19h
Entrada: Gratuita, por ordem de chegada