Os brasileiros estão sentindo pesar cada vez mais no bolso o aumento dos preços nas prateleiras. Já são três meses consecutivos com a inflação acima de dois dígitos, marco que não se via no Brasil desde 2017. É o que mostram dados divulgados na última semana pelo IBGE: a inflação geral chegou a 10,74% no acumulado dos últimos 12 meses, maior índice em 12 meses desde novembro de 2003 (11,02%). Para o setor de bares e restaurantes, um dos mais prejudicados pela pandemia, os custos não param de subir. Neste mesmo período, os combustíveis (52,77%), a energia elétrica (32,99%) e os alimentos e bebidas (8,9%) ajudaram a pressionar esses estabelecimentos, que tiveram que absorver parte desse aumento, sem repassar integralmente para os clientes. Já o aluguel, medido pelo IGP-M, chegou a bater 35,75% de aumento acumulado em junho deste ano. Outro caminho foi apostar no aumento da produtividade, que ajudou a segurar os preços do cardápio.
Para o presidente-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci, a lição aprendida na pandemia ajudou os estabelecimentos a cortarem custos nesse momento. “Parte relevante dos bares e restaurantes teve ganho de produtividade ligado à revisão dos processos, automação, digitalização dos clientes. Foram obrigados a rever os custos pela sobrevivência dos negócios. Uma das consequências mais visíveis é que onde antes trabalhavam dez funcionários, hoje trabalham oito”. Segundo Solmucci, isso possibilitou que, mesmo diante da inflação de dois dígitos, os aumentos no cardápio fossem adiados ou minimizados.
“A velocidade do aumento da inflação é desproporcional aos ajustes no cardápio. Os insumos sofrem aumento de preço diariamente e não tem como ajustar o menu na mesma velocidade. Assim, o empresário acaba não repassando a totalidade do ajuste para o consumidor e, por isso, para o cliente acaba valendo mais a pena fazer as refeições fora de casa”, explica a presidente da Abrasel-MT, Lorenna Bezerra.
Outro fator que merece destaque é enquanto a inflação geral acumulada nos últimos 12 meses chegou a 10,74%, o IPCA da alimentação fora de casa ficou em 6,13%. “A alimentação está dando uma contribuição importante para frear o aumento ainda maior da inflação geral, em especial o setor de alimentação fora do lar, com o aumento da produtividade e a absorção de parte dessas altas de aluguel, combustível, energia elétrica e alimentos em geral”, ressaltou Solmucci.
Mas há ainda uma parcela significativa deste setor operando no prejuízo (35%), segundo pesquisa divulgada esse mês pela Abrasel. “Foram bares e restaurantes que não conseguiram passar os reajustes de custo para o cardápio e seguem operando no vermelho”, finalizou.