Por Dr. Adriano Bastos Pinho*
Sendo as mãos essenciais nas atividades diárias de qualquer pessoa, as lesões das mais diversas, que as envolvem, principalmente as traumáticas, podem ocasionar sequelas motoras desde a perda de movimento, força e capacidade de preensão de objetos, até déficit sensitivos importantes, acarretando grandes limitações para o trabalho, lazer e atividades do cotidiano de qualquer indivíduo.
No Brasil, durante os meses de junho, julho e até agosto acontecem as famosas festas juninas e “julhinas”, quando fogos de artifício são comumente usados. Segundo dados do Ministério da Saúde, esse tipo de prática provoca um aumento no número de lesões causadas por queimaduras decorrentes de acidentes com os explosivos, em razão desses festejos.
O uso de fogos de artifício de forma inadequada pode causar acidentes graves, como queimaduras, amputações, perda da visão e lesões auditivas. Os últimos dados, levantados entre os anos de 2007 e 2017, registrados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), apontam 5.620 internações e 1.612 atendimentos ambulatoriais em decorrência de acidentes provocados por queima de fogos de artifício e 96 mortes registradas em todo o Brasil.
Neste contexto, falar em proteger as mãos torna-se imperioso, pois são elas que ajudam no sustento diário, na higiene pessoal, no lazer e nas mais diversas atividades do cotidiano de todos os indivíduos.
Durante as festas juninas, os atendimentos às pessoas que sofreram queimaduras nas emergências dos hospitais chegam a dobrar. Existem trabalhos que indicam que cerca de 80% das vítimas são crianças. Os motivos para essa alarmante incidência são principalmente a imprudência no uso de materiais inflamáveis e explosivos (fogos de artifício, balões) e brincadeiras perto das chamas das fogueiras.
Na categoria de gravidade, as queimaduras de 1º grau se sobressaíram com 51,73% do total das lesões, mas não podemos nos esquecer das amputações traumáticas de dedos, mãos, fraturas expostas, com grave perda de partes moles (tecidos).
Embora as queimaduras tenham diversos agentes etiológicos, como escaldadura, chamas, superfície aquecida, eletricidade, substâncias químicas, alimentos quentes e radiação solar, o uso de fogos de artifício é uma importante causa deste agravo entre crianças e adolescentes, tendo sido evidenciada em um estudo realizado como o segundo principal agente de queimaduras na faixa etária de 0 a 12 anos, o que levou à internação de 1.591 crianças e adolescentes brasileiros entre os anos de 2008 e 2015.
Observou-se que em todos os anos o número de internações secundárias às queimaduras por fogos de artifício foi maior entre os indivíduos do gênero masculino, corroborando os resultados de outros estudos nacionais e internacionais acerca das queimaduras, nos quais pessoas desse sexo foram apontadas como as principais vítimas.
Algumas lesões podem acarretar incapacidades físicas, incapacidades funcionais permanentes, elevando o custo social tanto no atendimento assistencial das pessoas, como no afastamento temporário escolar ou definitivo do trabalho, nos casos dos adultos.
Analisando todo esse panorama, torna-se indispensável que os profissionais de saúde estejam alinhados aos demais órgãos, profissionais, instituições, gestão municipal e comunidades, para que de maneira articulada consigam desenvolver políticas públicas direcionadas para buscar novas possibilidades para a execução de práticas e utilização de fogos de artifício, fazendo com que danos à saúde da população sejam minimizados ou eliminados.
É também necessário informar a sociedade para diminuir os riscos e consequências do uso indevido dos mesmos.
*Dr. Adriano Bastos Pinho é Mestre em Ciências Aplicadas à Atenção Hospitalar, Ortopedista e Traumatologista – RQE 2921, Cirurgião de Mão – RQE 3842, Membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, regional MT (SBOT-MT).