Nos últimos anos, especialmente em períodos eleitorais, as redes sociais se consolidaram como o principal cenário para debates políticos no Brasil. O que deveria ser um espaço democrático de troca de ideias tem sido dominado por grupos que se autodenominam de direita, recorrendo a estratégias agressivas para silenciar opiniões divergentes. Entre as ações mais comuns, estão os ataques pessoais e a deslegitimação de vozes que defendem ou simpatizam com pensamentos associados à esquerda. Esses ataques ocorrem até em postagens de perfis de pessoas opositoras, mesmo quando os conteúdos compartilhados não possuem relação direta com a política, demonstrando a abrangência dessa prática.
Silenciamento e Efeitos Psicológicos: Uma Análise
Esse fenômeno de desqualificação de opiniões contrárias vai além da divergência política e se aproxima de práticas descritas na psicologia como “gaslighting” — uma forma de manipulação em que o agressor tenta fazer com que a vítima duvide de sua própria percepção da realidade. Outro termo relevante é “assédio moral virtual”, caracterizado por intimidações repetitivas que geram sofrimento psicológico nas vítimas. Essas estratégias buscam minar a confiança e a disposição para o debate, criando um ambiente hostil e dissuadindo opositores de expressar suas opiniões. Isso configura não só uma ameaça à liberdade de expressão, mas também um risco à saúde mental daqueles que se tornam alvos de ataques constantes.
A Polarização em Cuiabá, Mato Grosso
Um exemplo claro dessa polarização e silenciamento é observado em Cuiabá, capital do Mato Grosso, onde a disputa eleitoral entre Abílio Brunini (PL) e Lúdio Cabral (PT) tem inflado os ânimos nas redes sociais. Mesmo aqueles que expressam um apoio cauteloso a Lúdio são frequentemente tachados de forma pejorativa como “comunistas” ou outros rótulos depreciativos. Isso ocorre numa tentativa de desqualificar suas opiniões, associando-as a estereótipos negativos que circulam no discurso político de certos grupos de direita.
Campanha de Abílio Brunini e o Estilo Combativo
A estratégia de polarização ganha força com a liderança do ex-deputado, coordenador da campanha de Abílio Brunini. Conhecido por seu estilo combativo, o ex-parlamentar reforça o discurso contrário a ideias defendidas por seus opositores e fomenta a retórica agressiva entre seus seguidores. Essa abordagem repercute nas redes sociais, onde apoiadores replicam ataques e desqualificações, contribuindo para um clima de hostilidade crescente.
Consequências para a Democracia e a Saúde Mental
A imposição de uma voz dominante através do silenciamento de opositores representa um retrocesso para a qualidade democrática do país. Em uma democracia saudável, é essencial que exista espaço para o diálogo e para a expressão de diferentes opiniões. Quando essas vozes são sufocadas, perdemos a chance de realizar debates construtivos e de encontrar soluções variadas para problemas sociais.
Ademais, o abuso psicológico nas redes sociais pode desencorajar a participação política e impactar a saúde mental dos indivíduos. Estudos indicam que práticas de assédio e deslegitimação virtual podem resultar em sentimentos de ansiedade, medo e baixa autoestima, levando pessoas a evitarem o debate público por receio de retaliações.
Caminhos para Superar a Polarização
Para enfrentar esse cenário, é fundamental investir em educação midiática e digital, capacitando usuários a identificarem discursos de ódio e manipulações. Além disso, as plataformas de redes sociais devem assumir um papel mais ativo na moderação de conteúdos abusivos, garantindo que suas políticas de uso sejam aplicadas de forma eficaz para proteger os usuários.
A sociedade civil, líderes políticos e comunitários também precisam promover o respeito mútuo e o diálogo. Reconhecer a legitimidade de diferentes posições políticas é um passo crucial para fortalecer a democracia brasileira e combater o ciclo de polarização e deslegitimação.